Princípios

Cooperação e Cidadania

Os princípios orientam o Programa, projetam sua visão de mundo e a compreensão sobre o modo de organização econômica e social que deseja reafirmar. Nessa perspectiva, é imprescindível que todos os envolvidos com o Programa incorporem esses princípios ao seu cotidiano, pois se acredita que a apropriação de novas posturas e atitudes só ocorre quando elas são vivenciadas no dia-a-dia.

Cooperação

Nos ambientes educacionais se faz necessário fortalecer as práticas de convivência, incorporando-as ao cotidiano das crianças e adolescentes. É preciso incentivar seriamente a cooperação, o diálogo e o comportamento solidário, especialmente quando se pensa num esforço educacional abrangente que envolve a comunidade, uma educação que investe na formação de consciência coletiva democrática. Nesse caso, a cooperação é essencial, e faz todo o sentido a recomendação de Ortega e Del Rey (2002, p.51), de que "Tudo isso se consegue melhor quando se trabalha em grupo e em cooperação...", alertando que: "Não se trata de dissolver o indivíduo num ente desconhecido, chamado grupo, mas de tomar consciência de que a vinculação ao grupo nos aporta à verdadeira dimensão social e ao único referencial real sobre nosso comportamento intelectual, afetivo e moral." Para a cooperação – compreendida como forma de construção social do conhecimento – também tem grande importância a comunicação, a documentação, a afetividade e o diálogo. A comunicação permite integrar os conhecimentos apreendidos. A documentação constitui o registro da história que se constrói no dia-a-dia. A afetividade e o diálogo são os principais elos entre os indivíduos e os objetos de conhecimento. Dito isso, fica claro que não se pode improvisar em termos de cooperação nos ambientes educacionais: são contrárias, as atividades cooperativas devem ser cuidadosamente pensadas e planejadas. Um ponto relevante nessa busca é a valorização das crianças e dos adolescentes e de sua formação: o mais importante já não é a acumulação de conhecimentos – mas o processo de construção dos conhecimentos. O motivo é que assim se pode levar em conta o equilíbrio pessoal e a harmonia social, que vão além do simples acúmulo de conhecimento. Dentro dessa perspectiva inovadora, as crianças e os adolescentes passam a ser o centro da atenção pedagógica. Ocorre uma grande inversão, na qual as crianças e adolescentes deixam o papel passivo, de simples receptores de conhecimento, e passam a ser sujeitos ativos no processo de aprendizagem. Passa a ser fundamental o reconhecimento de seus desejos, das suas necessidades e interesses, porque é a partir desses desejos, necessidades e interesses que se planejam as ações pedagógicas. E o conhecimento passa a ser fruto da reflexão sobre situações concretas, ou seja, já não é visto como algo externo ao seu meio social. Ao contrário, vem se somar às ações práticas sobre o meio social. Significa, novamente, que as ações cooperativas possam ajudar a constituir ambientes educacionais democráticos, capazes de formar pessoas autônomas para decidirem o seu destino pessoal e coletivo.

Cidadania

A cidadania é o valor básico de uma sociedade democrática e deve ser entendida como o pleno exercício de direitos e responsabilidades. Acredita-se que a cidadania só se efetiva quando fundada na simultaneidade e interdependência dos valores éticos de igualdade e equidade, diversidade, liberdade, autonomia e emancipação, participação, solidariedade e relação dialógica, necessários para o desenvolvimento de cidadãos capazes de construir e empreender coletivamente. A moderna noção de igualdade reconhece que todas as pessoas são diferentes e ao mesmo tempo proclama que todos devem ser tratados como equivalentes. Projeta que todas as pessoas são submetidas à lei e gozam dos mesmos direitos e responsabilidades. A equidade não se efetiva pela simples aplicação de regras de direitos para todos, mas especialmente por meio de ações específicas que consideram a particularidade de pessoas, grupos e territórios. A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma a dignidade comum a todos como sujeitos de direito, incorporando o reconhecimento da sua diversidade. As semelhanças nos unem e as diversidades nos enriquecem. A liberdade considera cada indivíduo capaz, autônoma e espontaneamente, de escolher seus caminhos. Expressa um direito e uma responsabilidade para todos os cidadãos. Direito, no sentido de poder tomar parte nas decisões que afetam sua vida, e responsabilidade em assumir compromissos frente à sociedade.

Para a construção do ambiente cooperativo, as relações sociais devem se pautar no exercício do diálogo. A relação dialógica garante espaço para contradições e complementaridades inerentes ao ambiente educativo. O processo de participação, para Bordenave (1994, p.16) é caracterizado por duas dimensões: "Uma afetiva: quando participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com outros. E outra instrumental: participamos porque fazer coisas com outros é mais eficaz e eficiente do que fazê-las sozinhos." A participação, segundo Lima (2001, p.76), pressupõe também, tipos e níveis de envolvimento: [...] Em termos de mobilização de recursos e vontades convocados/empenhados na tentativa de defender certos interesses e de impor certas soluções [...] em formas de ação e de comprometimento mais ou menos militante [...]. A participação social pode ultrapassar o micro universo das relações sociais locais e passar a promover transformações nos macrorganismos da sociedade, no âmbito político e econômico. Segundo Bordenave (1994,p.25): A participação social é a produção de bens materiais e culturais, bem como, sua administração e seu usufruto. [...] O conceito é transferido desse modo, da dimensão superficial do mero ativismo imediatista, em geral, sem consequências sobre o todo, para o âmago das estruturas sociais, políticas e econômicas. [...] Se uma população apenas produz e não usufrui dessa produção, ou se ela produz e usufrui, mas não toma parte na gestão, não se pode afirmar que ela participa verdadeiramente. Solidariedade é o sentimento de vínculo à vida, aos interesses e às responsabilidades de um grupo social, de uma nação, ou da própria humanidade. Remete também para a relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo sinta necessidade moral de apoiar o(s) outro(s). Essa perspectiva concebe a solidariedade como uma responsabilidade coletiva e não apenas uma ação espontânea de diferentes grupos sociais.
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